sexta-feira, 26 de junho de 2009

O colorido da vida


Terminei hoje meu trabalho de fotografia... último do semestre. Ufa!
Bom... já havia comentado aqui há algumas postagens atrás sobre este trabalho. Tentei fazer sobre diversos temas... me emocionei, fugi de garotos de rua, perdi filmes e filmes...mas isso é outro assunto.O tema final foi a terceira idade... ou melhor idade, denominação que ficou comum na publicidade, já que para ela, tudo o que pode vir a dar lucro se torna melhor, maior...

Falo deles, que estão em uma fase contraditória da jornada. 
Eles são o colorido da vida, são só olhos, histórias e sonhos.

Falo dos idosos, em específico daqueles que foram deixados de lado pela família, pela sociedade e às vezes até por eles mesmos. Falo de seres já construídos, cheios de idéias e ideais e que correm sérios riscos... risco de serem esquecidos e substituídos pelo indivíduo de valores atuais. Falo de homens, de mulheres, de cidadãos com direitos e deveres, com necessidades, vontades e experiências incríveis. Falo de desrespeito. 

Para quase todos os indivíduos deixados em abrigos, a condição de fragilidade resulta da dependência exagerada, da necessidade do outro às vezes até emocionalmente, da perda da autonomia, inclusive do poder de decisão. Conhecem seus direitos e deveres, seu espaço, o espaço do outro, a forma como tratar o próximo e a coragem para impor o modo como se quer ser tratado, o que não conhecem ainda é uma maneira de se fazer ouvir, de ganhar atenção. Sua presença participativa, cooperativa e operativa é ignorada, não há convívio familiar, não há espaço para partilhar, realmente... segundo muitos, chega-se ao fim da vida.

O problema do abandono escancara-se a cada dia e traz como conseqüência a banalização deste “deixar de lado”. Tudo o que antes importava já não representa nada, tudo aquilo que era assustador, causava embriaguez na alma e dor forte na consciência, agora encontra-se sem sentido, tudo o que poderia vibrar calou-se numa espera infinita, toda a velhice na teoria respeitada desapareceu e o idoso de hoje ficou invisível. O fantasma pede socorro num grito abafado e indecifrável, não com palavras ou revoltas exteriores, mas mutilando-se devagar, dia após dia, sem saber ao certo o valor da vida construída ao longo dos anos..

“Há quem fale que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que finda num segundo,
Há quem fale que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor”

Gonzaguinha ETERNO!!

A Casa do Idoso (INSTITUIÇÃO QUE VISITEI) foi criada devido ao não enquadramento de perfil de algumas pessoas que se encontravam na chamada terceira idade ao programa Mutirão da Moradia. O idoso permanece na casa enquanto conseguir cuidar de si mesmo, quando fica impossibilitado de realizar atividades básicas é transferido para outro abrigo. O projeto foi o primeiro no estado de Goiás, voltado exclusivamente para idosos acima de 55 anos provenientes de famílias de baixo poder aquisitivo. Trata-se de uma instituição asilar, de caráter público, aberta, de médio porte, que se situa na região Noroeste de Goiânia (Vila Mutirão) e oferece cuidados diários as pessoas que residem no local, em dois regimes de atendimento: o domiciliar e o hospitalar. Possui 30 casas de pequeno porte com capacidade para 02 pessoas.
Justiça seja feita ao governo do Estado, que de vez em quando acerta em cheio.

O envelhecimento é um processo lento, e tem como característica a perda progressiva da participação ativa no processo social, da possibilidade de adaptação a certas situações e realidades. Em muitos casos perde-se o vigor e às vezes a vontade de estar interado, relacionar-se, estabelecer objetivos.

Envelhecer é alcançar um patamar na vida, cuja imagem passa a ser digna de um respeito especial, diferente do dado (ou pelo menos que deveria ser dado) aos cidadãos mais jovens. Nesta fase da vida, o indivíduo possui um conhecimento extraordinário, conhecimento do outro, de si, das dificuldades que para diferentes olhos parecem o fim... conhecimento da vida. Assim, para se encontrar durante esta fase tão deixada de lado, é preciso posicionar-se ativamente, criar novos papéis, ocupações, atividades e relacionamentos sociais. Os altos índices de crescimento da população idosa mostram a grande necessidade de uma mobilização social de caráter preventivo, ratificando a importância do idoso como ser humano, inclusive com todas as limitações inerentes a sua idade. É imprescindível a integração entre todas as idades, com o que cada uma delas tem á oferecer.

Bela idade!
Sim, bela idade... descobri em minha visita a Casa dos Idosos que existe um mundo novo quando se entra na chamada terceira idade.  
Trata-se de pessoas que se encaram no espelho e enxergam o melhor da vida, histórias, saudosismo, lágrimas e risadas. Descendentes, amigos, amores... uma estrada feita de pessoas e passagens inesquecíveis. Mágoas... muitas mágoas, mas também vitórias vividas, vitórias compartilhadas...cheiro de avó que ganha-se com o passar do tempo e que fica impregnado mesmo sem netos.

Não é bonito ou fácil envelhecer.
O ritmo diminui, a exclusão de alguns grupos é inevitável, chega o cansaço, a indisposição, o peso de uma vida inteira não consegue mais ficar debaixo do sorriso. Mas também chega aquele jeito manso de falar, paciência interminável de ouvir... passos curtos, longas conversas. 

Pura contradição!

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