quarta-feira, 29 de julho de 2009

E lá ia ela, ela ia.

Ela sempre precisou de um pouco de atenção. Se fazia de forte... mas guardava cada olhar atravessado, cada palavra desentonada...tudo, absolutamente!

Acordava, comia torradas e tomava café... café preto e forte. Aquele que tem um cheiro invasor, quase impositor. Comia apática, sem pensar em nada... apenas comia ouvindo o barulho daquele pão seco se desfazer entre os dentes.
Levantava da mesa, saia de casa... era o primeiro contato com a rua...ainda vazia, ainda com cheiro de chuva, aquele cheiro bom, úmido, calmo. As pessoas apressadas pareciam não notar que ela estava ali.
Passos rápidos, fone nos ouvidos... o samba de Pixinguinha parecia levá-la para outro lugar...um lugar bom onde não havia saudade, solidão, indiferença. Não amava ninguém... mas ouvindo a melodia sentia vontade de alguém especial, uma história que um dia também poderia ser cantada. Na verdade não estava mais ali entre carros e ruas... pensava coisas de outra terra, outro pensamento...parecia de outra pessoa.

E lá ia ela, ela ia. Aquela menina... aparentava assim, com seu tênis batido, calça ganhada há 2 natais passados, cabelo preso com uma fivela antiga, mas preferida entre todas as outras que abarrotavam a caixa de papelão pequena onde eram guardados os adereços quase nunca usados...não era muito vaidosa. As mangas cumpridas barravam o vento frio (aquele que aparece mesmo nas manhãs de verão), impediam o sopro até o braço... braço fino, pulso com aparência de fraco, impedia também a exposição da cicatriz que ganhara nas férias...detestava aquela marca que acendia a curiosidade de todos que a viam...não aguentava repetir a mesma história. Aposta entre primos, ladeira abaixo, buraco no caminho, rosto no chão, pontos no cotovelo, 7.

Trabalhava o dia todo, e no final dele apresava-se, queria chegar na hora para opinar questionar, aprender, aproveitar aquela pessoa parada ali e que já tinha opinado, questionado, aprendido, aproveitado muito. Ia aprender a ser gente ou pelo menos tentar entender toda essa gente que geme, gesticula, acusa, se deleita, aceita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário